Foto: Divulgação |
Enredo: "Do fundo do
quintal, saberes e sabores na Sapucaí"
Autores: Xande de Pilares,
Jassa, Betinho de Pilares, Miudinho, Luiz Pião e W Correa
Intérprete: Serginho do Porto e Leonardo Bessa
Intérprete: Serginho do Porto e Leonardo Bessa
Samba Enredo:
Tem amor nesse
tempero... Salgueiro
Esse "trem
é bom demais"
Vem dos tempos
dos meus ancestrais
Foi o índio que
ensinou
Com sua
sabedoria
O jeito de
aproveitar, tudo que a terra dá, no dia-a-dia
É de dar água na
boca, se lambuzar
Visitar o
paraíso.... e sonhar
O danado desse
cheiro sô... ô sinhá
Atiçou meu
paladar... ô sinhá
Já bebi uma
"purinha" vim sambar na Academia
E não quero mais
parar...
O ouro desperta
ambição
Da fome nasce a
criatividade
O branco, o
negro e seus costumes
Trazendo muito
mais variedade
Um elo em
comunhão
E a culinária
virou arte e tradição
É no tacho... na
panela... mexe com a colher de pau
Saberes e
sabores lá do fundo do quintal
Peço a Nossa
Senhora pra não deixar faltar
É divina... que
delícia... pronta pra saborear
Prepara a mesa
bota a fé no coração
Numa só voz vai
meu samba em louvação
É o meu
Salgueiro com gosto de quero mais
Oh Minas Gerais!
"Do fundo do quintal,
saberes e sabores na Sapucaí"
Os
primeiros habitantes
Afastada
do litoral, a região do Serro do Frio, em Minas Gerais, antes da chegada dos
colonizadores, era habitada pelos índios botocudos. Tratava-se de uma tribo
conhecida pelas enormes argolas enfiadas nos lábios e nos lóbulos das orelhas.
Da presença indígena, a cozinha mineira herdou muitos elementos, como o uso de
raízes e brotos, os frutos encontrados no mato, a caça, a pesca, os utensílios,
os modos de preparo e tempero dos alimentos, enfim, o aproveitamento dos
recursos que a terra dava.
Conta
certa crônica escrita por um viajante europeu que os índios desta região tinham
como hábito degustar um verme que vivia no broto da taquara, uma espécie de
bambu. Os nativos faziam com ele uma excelente iguaria parecida com um creme
que ressaltava o sabor dos alimentos. Usado de outra forma, o
"bicho-da-taquara", como era também conhecido, uma vez seco e
triturado em pó, servia como poderoso sonífero. Isto proporcionava longas
noites de sono repletas de sonhos maravilhosos por terras desconhecidas e de
exuberantes paisagens, paraíso de cores e sensações inesperadas. Aquele que o
consumia, era transportado para um mundo imaginário fascinante!
A
corrida do ouro
Os
bandeirantes avançaram pelo território brasileiro em busca de riquezas. Levavam
na bagagem, nos lombos dos burros, o modo de cozinhar dos tropeiros que
produziam uma comida seca e fácil de ser transportada. Comida não perecível, de
quem fica pouco tempo em um só lugar. As bandeiras tinham que se virar com o
pouco que tinham à mão, daí recorrerem à caça e à pesca, aos talos e folhas e
outras tantas ervas que encontravam pelos caminhos.
Por
volta de 1693, foi descoberto ouro em Minas Gerais. Logo teve início uma
corrida desenfreada atrás de seus veios. Esmeraldas e diamantes atraíram gente
de toda parte do Brasil e da Europa. Portugal teve que abrir o olho, mandou
fiscais, militares e estabeleceu uma alfândega para evitar o contrabando dos
metais e pedras preciosas.
Nesse
período a população cresceu, os pequenos povoados viraram vilas com casas de
alvenaria e sobrados de dois andares que ocuparam o lugar das palhoças de
pau-a-pique. Modos e modas da metrópole se espelhavam no comportamento das
sinhás e sinhazinhas, que trouxeram tecidos e rendas, louças e talheres, novos
ingredientes para aprimorar ainda mais a cozinha mineira.
Alucinados
pela febre do ouro muitos abandonaram a lavoura e se dedicaram à exploração das
minas. Logo a escassez de alimentos se fez sentir. Havia ouro, mas faltava
comida. Com o preço dos alimentos subindo sem parar, muita gente passou fome. E
como a necessidade é mãe da invenção, o mineiro daqueles tempos foi buscar
soluções até então impensadas. Exigia-se o aproveitamento de tudo. O que antes
era rejeitado, agora era incorporado num novo prato, num novo modo de preparo.
Daí vem o jeito mineiro, sempre cauteloso e prevenido. Ou seja, a abundante
cozinha típica mineira surgiu da fome.
Os
escravos das minas
A
notícia da descoberta do ouro trouxe para Minas milhares de escravos vindos de
outras regiões do Brasil, principalmente daquelas onde a cana-de-açúcar
prosperava. Outros vieram diretamente do continente africano, o que causou um
espantoso aumento da população negra em Minas. Esta migração forçada e sofrida
deixou sua marca indelével na cultura mineira, seja na religiosidade, na música
e na dança e, sobretudo, na cozinha, formando junto com o indígena e o branco
colonizador a "Saborosíssima Trindade" da tão variada culinária de
Minas.
"Depois
do idioma, a comida é o mais importante elo entre o homem e a cultura". -
(Raul Lody)
A
cozinha
"O
cartāo de visitas de um local é a sua cozinha. Ela ensina, pelo sabor, seus
saberes".
Um
prato típico é aquele que preserva e envolve muitos saberes no seu conteúdo,
saberes que não se perderam no tempo. Cada utensílio de cozinha, como pilões,
tachos, gamelas, colheres de pau, panelas de ferro ou de pedra sabão. Cada
tempero como o imprescindível alho e sal, o urucum, a pimenta, cada folha vinda
do mato ou da horta, como o "ora-pro-nobis" e a couve, cada
ingrediente como a gordura de porco, a farinha ou a cachaça, tudo guarda em si
um conhecimento ancestral, que atravessa as gerações e faz sentir no presente
as lembranças e os afetos que nos remetem a outros tempos e lugares vividos.
As
receitas culinárias de Minas são inumeráveis. Misturas de magia afro-indígena,
da sofisticação luso-europeias, mas o princípio fundamental em todas elas, dito
com propriedade, é: "O primeiro ingrediente que vai na panela é o
amor".
A
comida e a fé, sustentáculos do homem da terra...
Era
preciso ter disposição e força para encarar o trabalho duro. E haja angu e
rapadura para vencer a lida! Mas mesmo quando a comida era pouca, havia a fé,
havia a crença, que superava as dificuldades e enchia de esperança o futuro.
Em
Minas, a devoção está para o homem como o sol está para a vida. Sob a luz de
Nossa Senhora do Rosário o "ora-pro-nobis" toma gosto e ganha tom!
Todos em uma só voz entoam as angústias e as glórias de um povo que sobreviveu
à escravidão. Todos honram à padroeira da cidade do Serro, nas figuras de
índios, reis, juízes e marujos. Aqui as três raças se consagram: índios,
brancos e negros louvam em uníssono àquela que guarda e protege a todos sem
fazer distinção. Homens e mulheres unem-se num ato de amor e gratidão por tudo
o que a terra e a vida lhes deram sob a bênção de Nossa Senhora, cantando,
seguindo em procissão, e, é claro, compartilhando os quitutes da boa mesa, da
divina comida mineira, temperada com uma boa pitada de generosidade.
E
eis o grande milagre:
Colher
de pau, pilão, tacho de cobre.
Fogo
de chão, gamela, fogão de lenha.
É
com amor que o mineiro põe a mesa,
É
atiçar o fogo e manter a chama acesa!
(Renato
Lage e Márcia Lage)
OBS
- Este enredo é baseado no livro "História da Arte da Cozinha
Mineira", de Dona Lucinha (Maria Lúcia Clementino Nunes). Folhear essa
obra é fazer um aprendizado sobre os costumes de Minas Gerais, suas tradições,
suas deliciosas receitas. É seguir os caminhos que levaram à descoberta do ouro
e se aprofundar na história do Brasil. Nosso enredo para o carnaval de 2015 é
uma viagem através dos sabores que Minas Gerais oferece e resguarda nos saberes
que cada prato típico preserva através do tempo.
Carnavalescos: Renato Lage e Márcia Lage"
Fonte:http://www.rio-carnival.net/
Nenhum comentário:
Postar um comentário