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Foto: Divulgação |
Samba
Enredo: "Um griô conta a história: Um olhar sobre a África e o despontar
da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa Felicidade"
Autores: J.Velloso, Samir Trindade, JR
Beija-Flor, Marquinhos Beija-Flor, Gilberto Oliveira, Elson Ramires, Dílson
Marimba e Sílva
Intérprete:Luiz
Antônio Feliciano Marconde (Neguinho da Beija-Flor)
Samba
Enredo
Vem na batida do tambor
Voltar na memória de um griô
Fala cansada, mãos calejadas
Ouça o menino Beija Flor
Ceiba, árvore da vida
Raízes na verde imensidão
Na crença de tribos antigas
Força e povoada nesse chão
O invasor singrou o mar
Partiu em busca de riquezas
E encontrou nesse lugar
Novas Índias, outras realezas
Destino trocado, tratado se faz
Marejam os olhos dos ancestrais
Negro canta, negro clama
Liberdade!
Sinfonia das marés
Saudade!
Um africano rei que não perdeu a fé
Era meu irmão, filho da Guiné!
Formosa, divina ilha
Testemunha dos grilhões
Eu vi a escravidão erguer nações
Mas a negritude se congraça
A chama da igualdade não se apaga
Olha a morena na roda e vem sambar
Na ginga do balélé, cores no ar
Dessa mistura vem meu axé
Canta Brasil! Dança Guiné!
Criança! Levanta a cabeça e vá embora!
No mar que trouxe a dor,
Riqueza aflora
Tens uma família agora!
Quem beija essa flor não chora.
Sou negro na raça, no sangue
E na cor.
Um guerreiro Beija Flor
Oh minha deusa soberana!
Resgata sua alma africana.
"Um
griô conta a história: Um olhar sobre a África e o despontar da Guiné
Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa Felicidade"
Introdução
Para conseguirmos entender o que
fomos e o que somos, é necessário que se conheça a herança da África no Brasil
e a África que ficou do outro A história da África – ou melhor, das várias
Áfricas, faz parte da história do Brasil. É importante para nós, brasileiros,
porque ajuda a explicar e entender a nossa história. Mas é importante também,
por seu valor próprio, e porque nos faz melhor compreender o grande continente
de onde proveio quase metade de nossos antepassados.
A importância e a magnitude da
África é algo tão impressionante, que por mais que se fale de África com frequência,
o tema é tão rico, que parece não se esgotar nunca; permanece despertando a
curiosidade e o interesse de pessoas comuns e estudiosos.
No passado, as tribos regionais, com
suas tradições e costumes, despertaram o interesse de distintos povos europeus,
que em busca de especiarias, terminaram por fomentar o tráfico de escravos.
Hoje, ao revisitar o sofrido
continente africano, nossa proposta principal é mostrar que é possível sim ter
esperança de que um povo massacrado, cansado e desiludido, seja capaz de
renascer, aos poucos, com sonhos vigorosos, planos precisos e metas concretas;
projetando uma nova África, ou uma nova perspectiva para a África, calcada no
progresso propiciado pelo "ouro negro" e nos ideais de unidade, paz e
justiça, reafirmados tal qual um mantra.
Caminhemos sobre a trilha de nossa
felicidade, porque neste carnaval, os caminhos da África nos conduzem à Guiné
Equatorial.
Sinopse
A conversa que ora inicia, poderia
muito bem versar sobre religião e a fé em nossos ancestrais ou, quem sabe,
sobre liberdade e este verde sem fim; alguns poderiam dizer que é o passado que
se revela do outro lado do Mar Tenebroso, ou por que não a África animista por
natureza em sua história de exploração, luta e dor. Esta conversa é tudo isso e
um pouco mais, diálogo entre um pequeno filho da Guiné Equatorial e um Griô, um
ancião, senhor do passado, mais um daqueles sábios que guardam, de pai para
filho, a história viva do continente africano, e mais precisamente, de A
criança, olhos fixos no velho homem, não deixa passar um detalhe sequer, e o
contador de histórias, em um tom tranquilo, porém com a voz firme, devaneia...
Declama... Recita... o livro aberto da memória:
Foi num tempo primitivo, no albor de
toda raça, sob um verde inimaginável, que nossa gente surgiu. Foi muito antes
deles chegarem, os brancos, em seus grandes barcos, guiados pela mais voraz
ambição, sedentos de ouro e de gente, nossa gente!
Antes era tudo verde, toda vida,
tambores e tribos...
A natureza pulsava em cada elemento;
as raízes das árvores entrelaçavam-se com a nossa raiz, e crescíamos , vivíamos
e cultuávamos a liberdade, cada um com sua fé. Os ritos refletiam a força e a
ligação do povo com a natureza, e a Ceiba, árvore sagrada da vida, testemunhou
cada momento do florescer de nossa história.
Mas um dia, esta paz sucumbiu...
Eles chegaram rasgando o Mar Tenebroso, e com as marés trouxeram a cobiça, sua
força e seus costumes tão diferentes das nossas tradições; eles sangraram os
corações de nossos ancestrais!
Falavam outra língua, buscavam
riquezas... Escravizaram homens, mulheres, crianças... Em nome do Rei de Portugal.
A jóia da Coroa era a Casa da
Guiné...
E do litoral, nossas mães
observaram, onda após onda, seus filhos vendidos... Quantos reis comerciados,
escravos por um trocado, objetos da opressão, no mercado de gente, mercadoria
humana.
Mas a grandeza de nossa terra atrai
outras bandeiras da maldade, e a engenharia da ambição ergue a sua companhia,
leva o continente negro, através de nossa cultura, por um oceano de mágoas. Os
filhos da África constroem a evolução da humanidade; o sangue negro foi a argamassa
do edifício da escravidão.
Papéis assinados, destinos trocados,
nossa terra por um tratado:
"Habla Espanhol"!
A raça negra, que transpiramos em
cada poro, resiste, enfrenta a dor, não se entrega jamais, e a cada grilhão,
nos tornamos mais fortes; a cada opressão, a cultura se manifesta.
Nada é mais degradante do que a
ausência da liberdade!
Nada é mais libertador do que a
força de um povo!
Menino, nós temos sangue dos Bengas!
Somos herança do reino
Bubi! Corremos nas terras Fang!
Temos influência de Oyó!
A África é a Mãe da Humanidade!
Filho, o suor negro construiu a
civilização moderna. Enquanto a empresa da escravidão possibilitou o acúmulo de
riquezas, nosso mar de gente sangrou os mares. Ah! Quantos Zumbis, quantos
Mandelas surgiram aqui no Golfo da Guiné? Nossa gente ensinou ao mundo o
perfeito significado da palavra liberdade...
Senhor! (Fala a criança): E agora
que eles foram embora?
O Grió aponta para o Mar e diz:
O que você vê?
O Oceano!
E depois?
O horizonte!
A África hoje enxerga o horizonte da
reconstrução, respeitando a história daqueles que resistiram, observando a luta
de quem um dia venceu a dor; símbolos de um continente desapropriado de grande
parte de sua gente, mas acima de tudo, um continente guerreiro.
A nova face da África se lança rumo
ao progresso; respeita a natureza, mas se engrandece com as riquezas que
afloram deste chão.
Nova face em meio a grande floresta
e a imensidão do mar em que se encontra a Guiné Equatorial; o país que emerge
da Costa da Guiné, terra intimamente ligada à história do Brasil, vivendo o
presente, como nação amiga e ansiando um futuro de unidade, paz e justiça.
Meu filho, orgulhe-se desta raça, de
sua dignidade e sua contribuição para a humanidade! Lute, pois lutar sempre foi
nossa verdade, para que assim, "caminhemos sobre a trilha de nossa
felicidade".
Justificativa
África: a paisagem que mais parece
uma miragem. Aquela imensidão verde, deslumbrante, intocada, hipnotizante. A
força da selva e a importância de Ceiba, a Árvore da Vida.
As frondosas raízes das árvores se
confundem, se misturam, se mesclam com as origens de nossos ancestrais, e com
todo o legado por eles deixado.
Com a tez escura como o ébano,
nativos e guerreiros de tribos primitivas, guardiões dos costumes e dos ritos
tradicionais, preservam as informações, as práticas, as estórias e os costumes,
que são registrados através da oralidade, na memória e nos corações dos homens.
Totens, máscaras, carrancas, esculturas, peças de marfim e técnicas
específicas, como a taiba, são alguns dos símbolos diversos que cruzaram o
oceano a propagar uma cultura magnânima.
Diferentes povos demonstraram
interesse em explorar, colonizar e extrair as riquezas da terra, destacando-se
as investidas europeias, onde marcaram presença portugueses, holandeses,
franceses, espanhóis e ingleses; sendo o Golfo da Guiné, o berço da herança
cultural deixada pelos medievais reinos tribais dos Benga, dos Bubi e pelos
clãs Fang.
Ao explorar o Golfo da Guiné,
Portugal, na busca pelo caminho das Índias, coloca a Formosa Bioko nos mapas
europeus. D. João II de Portugal, proclamado Senhor da Guiné, junto com os
portugueses, inicia a colonização das ilhas de Bioko, Ano Bom e Corisco,
convertendo-nas em postos destinados ao tráfico de escravos.
Na travessia do Mar Tenebroso,
enjaulados em sombrios navios, e acorrentados à grilhões e às lembranças da
terra natal, negros serviçais, humilhados, desacreditados e açoitados, terminam
por se dispersar pelo mundo. São braços fortes, construtores, massacrados pelos
opressores; pobres sofredores à mercê da sorte e da vontade de seus mercadores.
Um ode à liberdade anuncia o grito
de independência: rompam-se as algemas! Abaixo a dominação! De braços dados,
revela-se uma nação fraterna, ávida por união. Paralelamente à uma África
antiga, primitiva, rústica, observa-se o despertar de uma nova face da África.
Nascida na história recente, revela-se expoente a Guiné Equatorial.
Dotada de rica biodiversidade, com
belezas naturais estonteantes e riquezas minerais abundantes, fauna e flora
revelam as diferentes nuances da Guiné que saltam aos nossos olhos, refletidas
em cores e estampas, tecidos e sabores, no ritmo, no gingado e nos penteados,
que imprimem à essa gente uma negritude de traços tão marcantes.
Na iminência de completar meio
século, a Guiné Equatorial é uma região de solo fértil. A terra, generosa,
produz gêneros agrícolas diversos: cana-de-açúcar, café, cacau, banana,
abacaxi, abóbora, milho, mandioca e algodão, são apenas alguns dos produtos que
engrandecem a agricultura e brotam desse chão!
A extração de madeira, a existência
de diamantes, e a descoberta do "ouro negro", com o conseguinte
fomento do petróleo, ocorrem com demonstrações de respeito ao meio ambiente.
Empenhados em promover o encontro
das bandeiras de duas nações fraternas, num majestoso festejo popular, onde a
língua portuguesa é apenas mais um elemento de afinidade, objetivamos consagrar
o enlace cultural entre o Brasil e a Guiné Equatorial, brindando os ideais de
unidade, paz e justiça.
Abordando as distintas influências,
sem discriminação, cantemos liberdade! E "Caminhemos sobre a trilha de
nossa imensa felicidade".
Carnavalesco: Laíla
Fonte: http://www.rio-carnival.net/