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domingo, 8 de fevereiro de 2015

SÃO CLEMENTE

Foto: Divulgação

Enredo: "A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Perera da Tocandira e da onça pé de boi"

Autores: Leozinho Nunes, W.Machado, Hugo Bruno, Diego Estrela, Ronni Costae Victor Alves

Intérprete:Igor da Silva Moreira (Igor Sorriso)

Samba Enredo

Chega mais
Mas vem sem medo, hoje é Carnaval
Artista brasileiro genial
E nem Matinta Perera hoje, vai lhe calar
Vem bicho brabo e onça sambar
Clementiano é fiel não abandona
Vem pra folia Fernando Pamplona
De Rio Branco à Rio Branco aprendeu
Se encantou com esta festa popular
E quando foi julgador o desfile atrasou
Seu coração salgueirou

Zambi é Zumbi, Chica da Silva mandouôôôô
Exaltando o negro pro mundo inteiro cantar
Pega no ganzê, pega no ganzá

Idealista, grande vencedor
Fez o desfile ganhar outra dimensão
Choveram críticas, meu professor
Junto aos confetes e alegria do povão
Hoje, sua herança desfila aqui
Lindo girassol começa a se abrir
É o mestre
Que segue o astro rei lá no infinito
O céu ficou ainda mais bonito
Todos querem aplaudir

Vem que a festa é da gente
Meu orgulho São Clemente
Ao gênio maior da Avenida
Canta Zona Sul, feliz da vida



           Enredo de 2015

"A incrível história do homen que só tinha medo da Matinta Perera da Tocandira e da onça pé de boi"

Em Rio Branco era assim, um florestão envolvendo a cidade. Ninguém adentrava na mata - "Tá doido, seu?" - era habitada pela bruxa Matinta Perera, que calava o uirapuru mas que sumia com a chuvarada, por um bicho brabo, o gogó de sola, de dentada perigosa feito cobra, pela formiga tocandira, pela onça do pé de boi, que todo mundo jura que existia, com pé de boi e tudo. Pois foi lá nesse lugar tão longe que nosso personagem passou a infância.
Foi crescendo até que um dia chegou a hora de voltar para o Rio de Janeiro, sua terra natal e onde passaria o resto de sua vida.
No lido é que começou a brincar carnaval, ouvindo "Mamãe eu quero" e "Touradas de Madrid". O bloco de sujo que fazia parte ensaiava no cemitério. A molecada se encontrava perto da quadra IV, que ainda estava em construção, e os defuntos ali enterrados não reclamavam do barulho.
"A avenida Rio Branco era um deslumbramento só" - mão dupla, tudo decorado, cheia de grupos fantasiados. Entre os carros, desfilavam os cordões, grupos e blocos com muitos pierrôs, arlequins, tiroleses, holandeses e muitas colombinas também.
Passa o tempo, passa a guerra, passa a ditadura Vargas, o tempo vai correndo e nosso heroi vai se tornando mais adulto e mais valente. Essa avenida Rio Branco, dos desfiles carnavalescos, era a mesma que abrigava o Teatro Municipal. a Biblioteca Nacional, o Museu e a Escola de Belas Artes. E lá foi ele, atraído pelas artes, para a tal escola, e também para o teatro, onde trabalhou por muito tempo. Foi desse local, numa janela do andar superior, seu camarote exclusivo, que viu pela primeira vez um desfile de escola de samba, com Natal reclamando e a Portela evoluindo, ali, naquela mesma avenida.
Um dia, foi convidado para fazer parte do júri das escolas de samba. Aceitou.
E foi também na Avenida Rio Branco que, encarapitado num palanque de madeira, viu um desfile bastante sui-generis. "A primeira escola quebrou o eixo do carro... Que entre a segunda... Mas a segunda só entraria se a primeira entrasse...Então que entre a terceira... E nada da terceira, e nada da quarta também - Às onze e meia da noite, chega alguém avisando que a quinta iria desfilar - até que enfim..."
A quinta era o Salgueiro, apresentando enredo sobre Debret - o que cativou nosso jurado: em vez de "Panteão de Glória", "Batalhas de Tuiuti", etc., cantava um artista - Debret.
Foi desse dia em diante que nosso personagem tornou-se carnavalesco e salgueirense - as cores vermelho e branco ainda por cima o remetiam ao time de futebol lá do Rio Branco, quando ainda era menino.
Não espera receber o convite para desenvolver o enredo para o Salgueiro, no ano seguinte. Escolheu a resistência negra durante o período da escravidão, Nzambi dos Palmares, ou Zumbi dos Palmares, assunto que não era focalizado pelas escolas. Virou filme, e Zumbi hoje é símbolo de resistência.
Descobriu para o povo não só o Nzambi como Xica da Silva (foi um estouro!), Aleijadinho, e acabou desencavando um enredo sobre uma visita de um rei negro a Mauricio de Nassau - cuja música foi cantada não só no carnaval como em estádios de futebol, casamentos, e até hoje faz sucesso - "Olêlê, Olálá, Pega no Ganzê, Pega no Ganzá".
Apesar das vitórias, havia uma certa crítica negativa a ele, dizendo que não se deveria interferir numa manifestação popular. Tinham esquecido que, desde a década de 40, as escolas contratavam artistas eruditos e profissionais para realizarem seus enredos.
No ano do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, o tema escolhido foi "História do Carnaval Carioca", que retratava o carnaval carioca e o baile dos pierrôs, produzido por Eneida todo ano. Jogaram muito confete e serpentina durante o desfile, e os garis estavam esperando o Salgueiro sair da avenida para limpar tudo antes do desfile da Portela. Provocativos, os salgueirenses disseram que aquela era a comissão de frente da Portela. Os portelenses obrigaram os garis a irem limpando a pista no final do desfile do Salgueiro. Foi a apoteose - !Puxa, não esqueceram nada, tem até os garis limpando o final da festa!". Esses garis foram aproveitados mais tarde pelo Joãosinho Trinta no seu famoso desfile dos Ratos e Urubus. Na época, João era aderecista e bailarino. Acabou abandonando a dança e tornou-se carnavalesco, mas esta já é uma outra história...
O nosso heroi fez outros carnavais vitoriosos. Depois, passou a bola adiante e foi se dedicar a vários afazeres nas TVs para as quais trabalhava.
Um dia, cansado da vida, foi embora, acho que um pouco contrariado, pois viver foi sempre uma aventura que encarou sem medo.
Deve ter sido recebido por uma extensa corte - Nzambi, Aleijadinho, Xica da Silva e outros tantos negros e mulatos que fazem parte da cultura deste país mulato. Agitando bandeirinhas, eles gritaram em coro: "Pamplona, Pamplona, Pamplona.."

Enredo: Núcleo Criativo GRES São Clemente
Desenvolvimento de Enredo: Bia Lessa
Sinopse: Andre Diniz e Wladimir Corrêa
Presidente: Renato de Almeida Gomes

Carnavalesca: Bia Lessa


Fonte: http://www.rio-carnival.net/


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